A cada cigarro eletrônico, vape ou narguilé adquirido no comércio paralelo, o consumidor brasileiro não apenas coloca sua saúde em risco, mas também contribui para sustentar o crime organizado. Mesmo com a proibição em vigor desde 2009 — reforçada pela Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 855/2024 da Anvisa — o mercado clandestino abastece principalmente jovens com produtos ilegais, sem qualquer controle sanitário.
Além de financiar facções criminosas, esses dispositivos podem provocar dependência de nicotina, contaminação por substâncias tóxicas e lesões pulmonares graves, já registradas no Brasil e no exterior. O mesmo ocorre com narguilés e essências sem registro, que circulam de forma clandestina e podem conter compostos altamente prejudiciais.
Contrabando de cigarros tradicionais: um negócio bilionário
Se os cigarros eletrônicos e narguilés já preocupam, o contrabando do cigarro comum amplia ainda mais a rede criminosa. Um levantamento do Ibope, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (ETCO) em 2018, mostrou que mais da metade (54%) dos cigarros vendidos no Brasil são irregulares, sem registro na Anvisa.
No Paraná, estado estratégico por sua fronteira vulnerável, a marca mais comercializada — Classic — é ilegal e responde por 34% do mercado. Estima-se que o contrabando de cigarros movimente R$ 549 milhões por ano apenas no estado, com uma perda de arrecadação de R$ 292 milhões.
Facções criminosas transformam o contrabando em fonte de poder
Reportagens e estudos acadêmicos indicam que facções como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV) utilizam o contrabando de cigarros como uma de suas principais fontes de renda. A lógica é clara: trata-se de um produto de alto consumo, fácil transporte e penalidade criminal mais branda que a do tráfico de drogas.
Uma carreta interceptada pode representar milhões em prejuízo ao crime, mas quando passa despercebida garante lucros igualmente milionários. Segundo a Gazeta do Povo, esses grupos expandem seus negócios com o cigarro contrabandeado, financiando armas, logística e operações de expansão territorial. Já estudos publicados reforçam que esse comércio ilícito se mistura a redes políticas, empresariais e policiais, configurando um ecossistema criminoso altamente lucrativo e enraizado na sociedade.
Anvisa reforça proibição e intensifica fiscalização
A Anvisa alerta que qualquer cigarro eletrônico encontrado à venda no Brasil é ilegal e pode ser alvo de apreensão. A decisão de manter a proibição tem como base evidências científicas que apontam dependência de nicotina, contaminação por compostos tóxicos e riscos graves à saúde.
Fontes:
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Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (ETCO) / Ibope, 2018
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Gazeta do Povo — PCC e Comando Vermelho expandem negócios com contrabando de cigarros
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SciELO — Dilemas: Revista de Estudos de Conflito e Controle Social
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Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) — Cigarro eletrônico




























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